Colóquio da Association Lacanienne Internationale e do Tempo Freudiano Associação Psicanalítica em que recebemos, no Rio de Janeiro, nos dia 9, 10, 11 e 12 de abril de 2003, Marcel Czermak, Bernard Vandermersh, Christiane Lacôte, Denise Sainte-Fare Garnot, Roland Chemama e outros.
O evento foi publicado na íntegra em nossa Revista Tempo Freudiano n° 5
“O sujeito do inconsciente, diz Lacan, é o próprio sujeito que emerge com a ciência, aquele que aí foi foracluído. Mais tarde ele dirá que a psicanálise é um sintoma. E que é preciso que ela fracasse para que, como sintoma, ela insista no real. A dupla aporia já situa para nós o teor das questões desde seu momento constitutivo. E permite entender que seus desdobramentos futuros já estavam inscritos no ponto de partida. Nas últimas décadas, o progresso científico e o imperativo de suas conseqüências, na circulação e na dissolução dos discursos, vêm minando as amarras do simbólico e de tudo o que sustenta a estrutura da lei para um sujeito. Porque a ciência não é um discurso, não faz laço social. Quer isso dizer que, a seus herdeiros, só restariam, então, as regras, a lei positiva, com tudo o que isso implica de anulação do desejo para um sujeito? Ou será que aquilo a que seremos levados aí – puro paradoxo – será o retorno do mais arcaico? Essa alternativa também foi prevista por Lacan: a religião triunfará, pois é ela que fará proliferar de novo o sentido.
São questões que constituem impasse e problema para a contemporaneidade, mas que assumem naturalmente os mais variados matizes de acordo com a singularidade do contexto histórico e cultural de nossas sociedades. Pois é claro que a incidência desses efeitos opera de modo sempre diferente sobre a eficácia simbólica, produzindo necessariamente, em cada situação, conseqüências específicas para o sujeito em sua posição e em suas relações com a lei. Vicissitudes que a psicanálise não pode negligenciar em suas particularidades, justamente para poder localizar aí o que nos é comum a todos, a maneira como tudo isso funciona para o sujeito contemporâneo, herdeiro da ciência, como obstáculo ao reconhecimento e ao exercício do seu desejo.
Neste Colóquio, psicanalistas estão convidados a intervir, dando conta de como tudo isso está emergindo em sua experiência concreta, em sua prática. É esse, afinal, o único lugar de onde nossa palavra pode se autorizar. E é o que nos assegura também de que uma interlocução será possível e frutífera. Pois qualquer que seja o viés a que cada um seja levado por sua enunciação, sabemos, de antemão, que estaremos falando sempre da clínica psicanalítica.”
Antonio Carlos Rocha