Estas Jornadas de estudo da Association freudienne internationale sobre “A representação” nos permitiram, com alguns amigos, avançar um pouco nesta questão do transexualismo, pois ela nos permitia, a partir de uma psicose amplamente manifesta, que tinha achado seu equilíbrio imaginário, refazer a pergunta: o que é essa mulher que o transexual pretende ser? Encontraremos aí diversos complementos ao que tínhamos trazido em nossas “Precisões sobre a clínica do transexualismo”.1
Marcel Czermak
Vamos agora descer das alturas em que, esta manhã, nos mantínhamos, com o comentário de B. Balbure sobre o quadro de Füssli, para abordar nosso assunto em um outro nível: aquilo que é preciso mesmo chamar de “a pelanca” do corpo real enquanto tal. E tentarei lhes mostrar, já que insistimos em nosso título, a articulação das questões relativas ao nosso assunto de hoje com as questões sociais.
Aqui estão representações do “Nebenmensch”: são cartões postais vindos das Canárias, endereçados a cada uma das pessoas de nosso Serviço por um transexual de quem lhes falaremos. Não vou ler para vocês os textos que estão no verso. Estes cartões postais, recebidos esta semana mesmo, representam, como vocês podem constatar, mulheres bastante desnudas, de uma maneira bastante pornográfica, muitas vezes em série no mesmo cartão postal, num tipo de reduplicação, ela própria reduplicada pelo número de cartões postais, e com um endereçamento unívoco a cada um dos destinatários, homem ou mulher, e qualquer que seja sua função no aparelho hospitalar.
Representação de carne crua em série, desencadeadora de sua tonalidade obscena, cuja diferença considerável todos podem sentir, imediatamente, em relação às excelentes fotografias do nº 1 do Journal Français de Psychiatrie. Lemos aí, de pronto, a distância entre a carne pornográfica e a arte. Vejam também esta fotografia: trata-se de um homem e uma mulher, desnudos, com este comentário em alemão, embora vinda das Canárias: Sein nicht einfesuchtig lieblieng, não seja ciumento, meu amor. Tipo de cartões postais que companheiros se enviam quando vão fazer turismo nas Canárias, ou quando fazem seu serviço militar.
Nosso serviço será outro, sendo, no eixo deste colóquio, o de atingir com uma pedra quatro alvos:
– Contribuir para essa questão da representação.
– Contribuir para nosso “comitê de questões clínicas”, já que evocaremos um caso de transexualização relativamente pacífica, quase sem reivindicação, insistência ou ameaça em sua relação com outrem. Um caso, portanto, que podemos chamar de autêntica cura. É a ele que devemos nossos cartões postais.
– Contribuir para o problema geral do transexualismo, tema de uma reunião que estamos preparando.
– Contribuir para nosso “comitê de questões perdidas” em pontos concernentes à doutrina geral das psicoses.
Esses aspectos se enodam precisamente na questão social, pois, se programamos para o próximo ano essa reunião sobre o transexualismo, foi justamente a partir de uma decisão jurídica de primeira grandeza, aquela da Corte Européia dos Direitos do Homem, retomada em dezembro de 1992 por nossa Corte Suprema: pela primeira vez, nossa alta jurisdição dava seu acordo a uma mudança de estado civil para um transexual operado, investindo, assim, contra o princípio fundamental da indisponibilidade do estado da pessoa. Já em 1963, em um colóquio organizado por Benjamin, um jurista formulara que, visto que estávamos em uma democracia, cada um podia perfeitamente escolher seu sexo!
Lacan pôde formular: a clínica, trata-se do real como impossível de suportar pela representação. Ou ainda, variante, o real é sem representação, mesmo que tenha representantes – a saber, o significante e a estrutura –, o que pode, eventualmente, torná-lo apresentável. E, no caso que vamos trazer-lhes, vocês verão operar precisamente esta função, destacada por Lacan, do ao-menos-um
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Há um bom número de anos, fui alertado por esses sujeitos que queriam ser ditos “mulher”. Pergunta-se então: o que é uma mulher? Que mulher é essa? Quais são seus traços? Por que essa insistência em serem ditos mulher, que freqüentemente dispensa qualquer demanda cirúrgica?
Na maioria das vezes, cria-se então uma grande confusão. Dei-me conta, então, deste fato não observado, recenseado, em nossa literatura: esses sujeitos, a quem se pergunta por que eles querem ser ditos mulher, respondem freqüentemente – traço quase constante – assim: “uma mulher é mais belo”. Por que você se disfarça de mulher? “É mais belo.”
Assim, a própria questão da beleza, questão eminente de estética, se apresentava de pronto nesses casos e, de modo muito eletivo, em um ponto que é aquele – limite – que antecede imediatamente uma irremediável fragmentação possível. Ponto de antecedência do horror mais cru e, portanto, dessa junção íntima da beleza e do horror.
Este caso de que vamos falar não enfatizava especialmente a beleza: só muito lateralmente a palavra lhe vinha. Entretanto, anteontem, recebemos todos esses cartões-postais, perfeitamente congruentes com a experiência, e que dão uma idéia do que é, para nossos sujeitos, a dita beleza, certamente bem distanciada do que o quadro de Füssli mobiliza; a saber, como eu disse, a pelanca como tal.
Ele tem também sua pequena história técnica, a título da “transferência de trabalho”. Nós o recebemos, há alguns meses, em nosso serviço. Meus colegas mais jovens se empenhavam em decifrá-lo, ao mesmo tempo que sofriam seu efeito mais freqüente: o de um desconcerto absoluto diante de um homem que diz: “Eu sou uma mulher”. Por isso, para ajudá-los a se extrair de sua representação espontânea, isto é, dessa fresta de que falava ontem Jean-Jacques Tyszler, que é aquela do neurótico que acredita na psicogênese, entrevistei-me três vezes com esse paciente, cuidando para que meu questionamento pudesse recolocá-los nos limites do clínico.
Sendo o quadro de uma exemplaridade bastante sensacional, pedimos então a Charles Melman para examiná-lo, no âmbito de nosso ensino da quarta-feira à tarde. Ele o fez, o que deu, aliás, um relevo um pouco diferente, já que – evidentemente – o exame, da maneira como fizemos, de um sujeito num pequeno círculo, no meio hospitalar, que chegamos a despir, dá resultados às vezes um pouco diferentes dos obtidos quando o entrevistamos em nosso anfiteatro, em público, que foi a situação com Charles Melman.
Foi então que um cartel do nosso seminário, interessado por nosso caso, o retomou. Conversamos a respeito do caso, e o que vamos trazer-lhes é toda a distância entre essas fotografias e o real da clínica, esse real impossível de ser sustentado por uma representação, visto que essas fotografias são uma representação. E veremos, ao final, de que modo isso que é efetivamente apresentável para o clínico se deixa especificar topologicamente de uma maneira que tem apenas pouco a ver com, justamente, essa representação. O que veremos – eu antecipo – é de que modo esse tipo de caso faz valer claramente sua tendência a uma esfericidade que tende ao fechamento, e que se orienta na direção de um aspecto pulsionalmente mono-orificial; de que modo se opera aí uma defecção pulsional2 que o conduz, progressivamente, na direção de uma teoria cloacal de seus próprios orifícios; de que modo, se o mundo deve ser sem furo, perfeitamente pleno, temos aí uma congruência, eminentemente moderna, com nosso ideal político contemporâneo de um mundo ao qual nada faltaria: um mundo sem falta e sem falta de falta, no qual nos aproximamos do Cotard. E, mesmo que nosso paciente esteja – aparentemente – longe dele, as fórmulas negadoras não faltam, na verdade afirmativas, indicando de que modo as clínicas de um e do outro são apenas o direito e o avesso de uma mesma questão.
Também veremos de que modo, se é o discurso que vem ligar os órgãos em função, em tal caso não há nenhum discurso no sentido de Lacan e, portanto, de que modo se opera aí essa tendência que eu qualifiquei de mono-orificial do funcionamento: todos os órgãos tendem a se reunir num só, que asseguraria para si mesmo todas as funções.
Seria também uma maneira de retomar a questão da significação do falo como operador das funções, nas quais é preciso incluir a da representação: que esse operador – esse significante que Lacan denominava cópula – venha a faltar, e será então, muito precisamente, o caso do qual acabei de, muito rapidamente, recuperar alguns traços, cuja convergência com nossa atmosfera social eu gostaria de tê-los feito sentir, inclusive em seus sonhos de um mundo imaculado e seus ideais higienistas: para ele, nada mais sujo do que o falo e os objetos relacionados a ele. Em resumo, nada moralmente mais sujo que o desejo, mas então é a obscenidade que vem prevalecer.
Persistimos e confirmamos então: anotações de clínica social.
Deixo, assim, a palavra a Louis Sciara, que se fará o porta-voz desse cartel que incluía Serge Gaudé, Claude Gavarry, Philippe Mauduit, depois que minha Assistente, Claire Sotty, e meu Residente, Jean-Marc Berthomé, se encarregaram do caso.
Louis Sciara
Eu me esforcei para fazer uma síntese das principais linhas de força clínicas que se destacam no caso do Sr. Marcel P. Apoiamos o nosso trabalho na transcrição da entrevista de apresentação e no prontuário da hospitalização. Marcel Czermak nos aconselhou durante toda essa reflexão sobre esse caso de transexualismo pacificado.
Rica elaboração delirante centrada na certeza de ser “uma mulher”, em que a transexualização é particularmente notável por sua fixidez, seu caráter articulado e organizado, pela ficção delirante de toda a anamnese e, enfim, pelo modo pacificado que ela instaura no laço social cotidiano.
A contrario dos casos de transexualismo ditos “primários”, nenhuma exigência indignada de uma retificação corporal. Ele não reivindica nem castração, nem mudança do estado civil: limitou-se a colar em sua carteira de identidade sua fotografia disfarçado de mulher, com peruca. Trata-se, portanto, de um caso que tranqüilizaria os defensores de uma ética da liberdade dos transexuais em poder dispor, como quiserem, de seu corpo, mas, sobretudo, muito esclarecedor do “empuxo-à-mulher”, sua transexualização sendo a investida bem-sucedida, impondo-se a ele, da feminização estranha presente na orla de qualquer psicose. Permanece enigmática a representação que estaria em jogo para nosso sujeito. Não temos nenhuma idéia dela, do mesmo modo que ela nos é inimaginável. Sua estrutura topológica nos é espontaneamente irrepresentável.
Nós nos esforçamos, portanto, em demarcar a lógica estrutural do caso, a fim de esclarecer a fórmula de Marcel Czermak, “o real é sem representação, mesmo que tenha representantes”.
Apresentaremos primeiramente o aspecto clínico do caso, para precisar em seguida os pontos de estrutura prevalentes.
O Sr. P. nunca foi hospitalizado em psiquiatria. Ele o é, pela primeira vez, no Centro Henri-Rousselle do Hospital Sainte-Anne, há alguns meses, encaminhado por um hospital geral onde havia se consultado por problemas somáticos (essencialmente uma angina) e onde foi constatado um “delírio crônico relacionado a sua transexualidade”. Desde essa primeira estada em Sainte-Anne, foi readmitido em várias ocasiões pelos mesmos distúrbios somáticos.
Na apresentação em Henri-Rousselle, Charles Melman lhe pergunta seu nome. O Sr. P. responde: “Bem, eu tenho um oficial e tenho dois outros… No meu bairro, me chamam de Madame Amanda e na D.P. me chamam de Cécelle,3 meu nome oficial é Marcel, mas eu não gosto muito dele. E meu papai, que era uma ‘eminência parda’, bem, quando eu nasci em 1929 em Port Royal… bem, meu papai, que era uma ‘eminência parda’, queria que me operassem porque eu não era um menino, eu era uma menina. Sim, Professor, e hoje em dia, meu doutor particular… me disse: ‘em um mês ou dois você não terá mais pipi’ e há dois dias meu pipi entra no ventre, não tenho mais que dois centímetros de pele, então eu faço pipi por trás porque eu fui operado há 21 anos em Londres, porque meu marido é arquimiliardário. Ele é conde e eu sou condessa. Tenho um filhinho que fez 16 anos em 15 de março deste ano. Então eu peguei a Luftwaffe, o equivalente da Air France na França, e aí, é uma companhia alemã”. Um pouco depois: “O Professor P. do hospital fez todos os exames e tudo e me disse: em toda minha vida de estudante, de médico, de professor, nunca vi um ser como você. Ele me disse que eu era hermanociclo, sim. E eu lhe digo, como eu fui operado há 21 anos antes de meu casamento”.
Charles Melman lhe pede para precisar a natureza da intervenção: “Bem, quer dizer que, no interior, eu tenho todo o aparelho de uma mulher, e isso me acontecia um pouco mais freqüentemente, bem, eu fazia pipi por trás porque no interior eu tenho todo o aparelho feminino com meu ânus. Mas eu lhe digo, ahn?… Eu nunca fui um ser como todo mundo”. Terão notado, além do delírio, os encadeamentos utilizados: “porque”, “bem”, “sim”.
Robusto e mais para gorducho, o Sr. P. usa calça de pijama, robe, um gorro de lã pontudo (que ele mesmo tricotou), brincos e alguns anéis. Um pouco de seios. Voz neutra e gestual mais para maneiroso e equívoco. Equivocidade acentuada por falas em que a equivalência dos nomes (Marcel, Cécelle, Amanda) deixa no ar algumas dúvidas nos presentes quanto a sua verdadeira identidade sexual: ele? ela?, induzindo oscilações naqueles que o ouvem.
Sua insistência em se dizer mulher, em evocar uma operação que o teria tornado mulher, em ressaltar sua singularidade excepcional de “hermanófilo” ou de “hermanociclo”, segundo as palavras dos médicos que o atenderam no hospital geral, é perturbadora. A ponto de se perguntarem se não se trataria de um caso de hermafroditismo congênito. Na verdade, o exame e a avaliação somática não revelam nenhuma ambigüidade sexual, ele tem apenas um testículo e uma ginecomastia ligada a um discreto desequilíbrio endócrino. Ele nunca tomou hormônios.
Referindo-se o tempo todo a seus atributos femininos, exibe o tempo todo seus representantes d’“A mulher”, aquela que é toda, em todos os registros (menina, amante mulher, prostituta, mãe de família etc.), chegando mesmo a querer exibir as cicatrizes imaginárias da “operação”, bem como das cesarianas sofridas. Mas, apesar de toda essa “imponência” feminina, uma certa estética do vestir, pouco preocupado com seu figurino pouco elegante, lhe importa pouco, também, estar mal barbeado, usar um gorro pontudo ou colecionar bonés. Ele é mulher. Os traços ou insígnias de virilidade não o perturbam. A caricatura disso nos é dada em uma entrevista com Marcel Czermak, no hospital.
Ele o despe e constata que “os elementos” estão bem no lugar. “Você é aparelhado como um homem”. Sr. P.: “Bem, sim, mas de qualquer maneira eu sou uma mulher”. M.Cz.: “Você não ignora que é aparelhado como um homem”. Sr. P.: “Sim, mas isso não me incomoda de jeito nenhum”. M.Cz.: “Você tem uma imaginação de mulher”. Sr. P.: “Não, não é uma imaginação, é a verdade”. Ele é, portanto, mulher; sem hesitação.
E, com relação à beleza, dizendo-se condessa, teremos oportunidade de apreciar sua vida faustosa de castelo, à maneira de clichês caricaturais. Um outro aspecto, ao qual seremos sensíveis na escuta do caso, chama a atenção: uma inclinação a deslizar para a morte, para um aniquilamento em que ele se encarna como dejeto. Verdadeira mulher, ele pôs no mundo dois gêmeos. E conta, cruamente, que esquartejou os fetos, picou-os e jogou na privada. Ou ainda, evocando seu nascimento como um sacrifício da mãe ou do filho: “Então, sacrificou-se o bebê”. “Sim?”. “E mamãe, eu cuidei dela até sua morte.”
Acrescentemos duas observações quanto a seu modo de apresentação: o Sr. P. não está nem no semblant, nem na mascarada feminina. Trata-se de um “maneirismo sem semblant”, para retomar a fórmula de Henry Frignet. Com qual real ele tem a ver? “A mulher” não é nem uma imagem, nem uma representação. Trata-se de um “representante” que é o próprio real, a tal ponto que imaginário e real se colabam. O imaginário desse sujeito é seu próprio real.
Desse modo, percebemos melhor a importância maior que o olhar desempenha aí. O Sr. P. provoca um verdadeiro duelo escópico e verbal com Charles Melman. Sr. P.: “Por que é que o sr. pisca os olhos o tempo todo?”. Ch.M.: “É o meu olhar que o fascina?”. Sr. P.: “Eu nunca baixei os olhos, nem diante da Gestapo”. Ch.M.: “Veja, você não suporta o meu olhar”. O desafio é proporcional ao risco, a saber, um real brutal de despedaçamento do corpo. O olhar do Outro se reduz, de um lado, a um mau-olhado real, algo persecutório, representante persecutório do Outro real e, de outro lado, lhe serve de apoio e de sustentação, o conforta, lhe dá uma certa imponência. Daí seu olhar atento, sensível ao menor detalhe, que recorta, disseca. O olhar do Outro poderia contestar seu “ser mulher” ao mesmo tempo que o preserva de graves manifestações ansiosas de despedaçamento.
Para tornar mais precisa a observação, retomemos alguns elementos da anamnese: ela se revela totalmente delirante. Sem acontecimentos certificáveis, historicizados pelo Sr. P. Não adianta procurar uma coerência factual, uma causalidade explicativa. Essa história só tem coerência se remetida a sua estrutura delirante. Preservemos apenas que ele é condessa, casado com Helmut (Elle mute),4 que vive na Alemanha e o visita a cada noite. Ricos proprietários de fábricas, de um castelo. Seu pai, “eminência parda” de carreira, tinha bens. O Sr. P. trabalha para a Polícia Judiciária e a contra-espionagem. Vestido de mulher, ele seduz os motoristas de táxi muito paqueradores. Ator de teatro e de cinema, ele posa também “toda nua” para escultores e pintores “na casa” de sua patroa Vera. Além de Helmut, seus amantes, entre os quais Herman, o tomam, o fazem gozar em noites nas quais uma voluptuosidade intensa toma conta dele.
Sem crítica, nem preocupação com verossimilhanças, ele também não tem idade, está fora do tempo. “Que idade você tem?”. “Hoje é meu aniversário…”. Todos os dias é seu aniversário.
Seu irmão mais velho acrescentou algumas informações às declarações do Sr. P.: tendo vivido com sua mãe até sua morte, ele vive sozinho há 13 anos. Marcel era o preferido entre os irmãos e o mais novo. O Sr. P. relatou, aliás, seu devotamento absoluto a sua mãe, gravemente doente com diabetes. Uma proximidade, uma intimidade, pelo menos estranha, já que ele cuidava do corpo de sua mãe chegando a limpar sua “xoxota” (sic). O irmão confirma que ele foi mesmo carteiro e depois funcionário dos Correios. Seus pais se separaram quando era pequeno e a mãe voltou a casar-se, com um homem violento e alcoólatra.
Esse irmão mais velho, Lucien, informa que o Sr. P. nunca foi afeminado e que eles se perturbaram, depois da morte de sua mãe, quando o Sr. P. lhes disse que era “uma bicha”. Lucien ainda informa que, na infância, não era Marcel, mas ele, Lucien, que era vestido como mulher. Enfim, o Sr. P., embora muito isolado, ao que parece, é muito bem aceito em seu bairro. Os comerciantes o chamam de “Madame Amanda”. Ele usa uma peruca e ocasionalmente se pinta.
Retomemos: o Sr. P. foi tomado em uma fabulação delirante de toda sua filiação, de sua identidade, de sua identidade sexual, de sua corporeidade. Sua feminização impõe-se atualmente a ele de um modo pacificado. Tendo excelente disposição para com o outro, sua vida no bairro, onde ele é também reconhecido como “Madame Amanda”, é serena. Nenhuma vingança, virulência, reivindicação de passar por uma castração real. Não se trata de uma psicose passional, sua loucura é pacífica. Sem nada que o ofenda, sem nenhum senso de ridículo, não se queixa de nada. Além do mais, seu sexo está desaparecendo: está quase, é iminente. Ele evita a reivindicação comum aos transexuais aliviando-se, desembaraçando-se do significante fálico em cima de pequenos outros erigidos, na ocasião, como representantes da virilidade (Herman: o amante, redobramento de virilidade por seu Herr e seu Man; Helmut: o marido, elle mute…). Figuras imaginárias de homens que viriam tomar posse de seu “interior de mulher”. Nenhuma necessidade de ser castrado: a fabulação delirante faz suplência aí e induz sua “cura”.
Delírio notável, ao mesmo tempo por sua fixidez e por seu caráter fabulatório, imaginativo e megalomaníaco. A metáfora delirante se traduz essencialmente por essa convicção de ser “hermanociclo”, de ser “mulher”. Núcleo duro firmemente instalado com o remanejamento da anamnese e com o caráter pacificado que indicamos. Outros aspectos surgiram durante as entrevistas, não maiores, menos permanentes. Assim, uma tendência à confabulação, traduzindo uma certa extensão parafrênica. Igualmente, um pólo projetivo notável: algumas notas persecutórias, referências a um poder telepático (ele é “transmissor de pensamentos” para a Delegacia de Polícia), alusões (“dizem que…”, “ele diz que…”, “me chamam de…”) evocadoras de rumores, podem fazer presumir fenômenos alucinatórios.
Quando ele afirma: “eu sou hermanociclo” ou “hermanófilo”, “hermanocita”, “manófilo”, estamos diante de uma série de neologismos de significação toda pessoal, em que se entrevê, ao lado da dimensão megalomaníaca de ser uma exceção, a queda nos duplos, nos duplicados e nos dublês, reduplicados ao infinito. Não se trata de forma alguma de desconhecimento do termo médico hermafrodita; trata-se muito mais de representantes de “A mulher”, que são também Nomes-do-Pai degradados, pululando no real. Voltaremos a isso.
Embora o desdobramento imaginário do Sr. P. se apresente de uma forma extremamente abundante, ele se reduz – na verdade – à linha de força imposta por sua estrutura, comandada pelo significante de “A mulher”. Assim se instala um transexualismo com explosão da identidade imaginária, preso em um delírio de grandeza a título da exceção da “homenosuma”.5
Mais ainda, esse imaginário acha-se em continuidade com um simbólico esfacelado no encadeamento dos nomes próprios e dos Nomes-do-Pai. Enfim, última alça do nó de trevo paranóico, o Sr. P. se acha confrontado, como lhes assinalei, com um real brutal de despedaçamento do corpo, de que dão conta as irrupções surpreendentes de retalhamento do corpo na cadeia falada.
Alça do imaginário
Chamado de Mme. Amanda, essa imaginação tornou-se prevalente em seu laço social. Mas trata-se de uma mulher muito particular, que visa à unificação, à completude total: “A” mulher que falta aos homens. E o Sr. P. se oferece, assim, sob diferentes formas, em um caleidoscópio de imagens, que visa a apreender a mulher sob todos os seus aspectos: a mulher-mulher, a mulher sexy, a mãe, a esposa… Figura proteiforme e colagem de representantes sem representação. Se há paixão, é a de um significante: aquele de “A mulher”. A linguagem que ele emprega dá forma a essas imagens, mas se apresenta como uma concha vazia, puro envelope formal. Ela solicita o olhar sobre qualquer detalhe que pudesse representar a mulher. “Eu não era um menino, era uma menina.” Ele deveria ter sido operado, por ordem de seu pai, “eminência parda”, desde o seu nascimento, mas os cirurgiões não quiseram. Operado há 21 anos em Londres, ele se casou em seguida. Uma lógica Outra está instalada: sendo mulher, foi operado ou deveria ter sido. Desde a infância, é “uma linda menininha” e é assim que o chamam. Vestido de menino, mas com as golas bordadas, seus cabelos longos, finos, encaracolados. Inspetores na escola o importunam. Com 13 anos, ele usa uma saia para cuidar das vacas (Lucien explicou que Marcel, seu irmão Hervé, 18 meses mais velho, e a irmã Germaine foram colocados em fazendas durante a guerra). Sua mãe sempre o considerou como uma menina, ela o chamava de “Cécelle” ou de “mon bichou”6. Ele declara: “Tive minhas regras com 15 anos e meio e até 55 anos, como uma mulher”. O “como” não implica uma identidade comum, mas um “envelope” feminino que o recobre. Ele tricota, cerze, bebe leite, tem horror de álcool, detesta os homossexuais e se afirma casado. É casado com Helmut. “Me juntar com alguém, isso, nem pensar”: ou o casamento ou nada, uma “verdadeira” mulher!, uma “verdadeira” esposa! Ele tem um filho, se prepara para dar à luz, sente o bebê mexer na sua barriga. Ele conhece o gozo: “Quando Helmut faz amor comigo, bem, eu gozo. Sim. Mas ele me toma, ele me toma porque eu tenho o feminino no interior”. Ele se diz virgem. Suas volúpias noturnas, já evocadas, testemunham um gozo Outro. Fora do Gozo fálico, oferece seu corpo a esse Outro não barrado que é ele mesmo, esse corpo tomado, inscrito no significante “A mulher”. Assim, o Sr. P. seria um heterossexual puro, na medida em que tem uma relação direta, imediata, com o Outro sexo que ele encarna! Mulher sexy, sempre solicitada pelos homens que bolinam sua bunda no metrô e lhe fazem a corte na praia, que atua em filmes pornográficos. E “roupa de mulher, eu tenho tudo; tenho combinações, tenho calcinhas pretas, bordadas com renda e tudo, sim, e eu sirvo de chamariz na D.P.”. Essa “mulher toda” desafia os homens, mais fortemente que os homens da polícia, para submetê-los à lei da polícia. Mulher que não tem medo dos homens, dos revólveres, que se faz respeitar: “Bem, pra ser machão, seria preciso mais do que isso”. O desejo de um homem não lhe inspira nenhum respeito: “Herman me tomava nos braços e ficava excitado, é! E Vera [sua patroa ou cafetina] passava e clac!, dava um peteleco no membro de Herman e pluf, sumiu o membro em pé”.
Magnificando a imagem da “mulher”, ele não se declara nem homossexual, nem travesti, tão-somente mulher. Mulher de exceção, que faz brilhar todas as facetas femininas, com sua vida de castelo, típica das revistas especializadas, num remendo imaginário flagrante. E, no entanto, seu imaginário constitui seu real, já que ele abole qualquer acontecimento factual, como já indicamos. Aqui, no nó de trevo psicótico, o imaginário consiste com o real e faz suplência à castração simbólica, fora do campo.
Alça do simbólico
Essa segunda alça está em continuidade, na cadeia falada, com as duas outras alças e apresenta, todas no mesmo plano, um desfiar de significantes. Assim, podemos colocar em série seus nomes, aqueles que ele dá a seu filho, a seu marido, a seus comparsas: eles testemunham a fragmentação de sua identidade e, ao mesmo tempo, o retorno dos Nomes-do-Pai no real. Os nomes proliferam num jogo de eco, sem capitonagem, sem significação particular, por assonâncias e aliterações, de acordo com as linhas de força da estrutura de sua psicose.Assim:
– seu nome: Marcel (nome oficial do qual ele não gosta muito)® Marcelle (na escola)® Cécelle (por sua mãe, na D.P., …). Para ser ouvido seguramente como: c’est celle (é ela).
– os de seu filho: Helmut (elle mute)® Louis (a mãe se chama Louise)® Marc (cf. Marcel).
– os de seu marido: Helmut, redobramento do pai e do filho.
– a série de nomes alemães (mito da potência alemã, um marido ariano, uma série de clichês): Helmut, Herman (senhor, homem), Vera, Karl…
– múltiplas assonâncias e aliterações da cadeia significante, ecos sem significação: uma amiga, “Cortès de Costaljou”, “qui a quitté l’hôtel Waikiki”.7
– um irmão 18 meses mais velho: Hervé, a colocar na série dos Herman, hermanociclo, hermanófilo, hermanocita, manófilo.
– a mulher, com a profusão de seus representantes, de seus significantes dos Nomes-do-Pai: praticamente todos os precedentes. Assim como, evidentemente, aquele que ele se deu: Amanda, anagrama de Madame, já que, sendo carteiro, ele levava os mandados.
Equivalência, no Sr. P., entre ser hermanociclo e ser mulher. Degradação da mulher em hermanociclo. Na falta de um Nome-do-Pai simbolizado, e na falta de poder se inscrever em uma filiação, desenvolve um verdadeiro delírio de filiação em que ele é seu próprio referente, em que o simbólico retorna no real sob a forma de um desfile, um desfiar ininterrupto dos Nomes-do-Pai (no qual é preciso incluir “a eminência parda”, seu pai, aquele que ele qualifica como “aquele do qual não se fala, e que age”, seu próprio referente a partir do qual ele pode se contar). Criando-se múltiplos nomes, nenhum deles interrompe o desfiar.
Terceira alça
A de um real brutal, despedaçado, que irrompe por instantes na cadeia falada e nos interroga quanto ao que lhe faltou no momento do estádio do espelho: como o quadro do soldado morto durante a guerra – evocativo de uma Pietà: “e eles me trouxeram um subtenente alemão, eles o colocaram sobre meus joelhos e sobre minha saia, e o subtenente morreu nos meus braços”. Ele chora por isso. A exemplo de sua evocação de seu nascimento (sacrifício da mãe ou do bebê, um se incluindo no outro; maneira de ser Um com sua mãe, na falta de um terceiro separador), ele faz bloco com o soldado que morre. Sua consistência egóica imaginária se resolve em despedaçamento.
Essas evocações de despedaçamento são pouco numerosas, mas poderosas: carteiro, conheceu um cirurgião que lhe ensinou a retalhar cadáveres: “E durante dois anos, ou de manhã ou à tarde, eu retalhava cadáveres. Desse modo, eu conheço inteiramente o corpo humano. Sim, professor!”. Ele pôs no mundo gêmeos: “Pois bem, eu retalhei o primeiro feto. Ele tinha cinco meses. Bem, eu o cortei em pedacinhos… eu o coloquei no W.C. público que fica nas escadarias”. Do mesmo modo, ele teria feito abortos.
É o representante “mulher” que sustenta esse corpo despedaçado e lhe permite, não obstante e contra tudo, aceder a um modo de vida pacificado. Esse significante puro, “mulher”, tenta fazer sutura ali onde a montagem borromeana fracassou. Ele tenta manter juntas as três rodelas do nó.
Último ponto, com relação àquilo que provavelmente desencadeou sua psicose: por volta de seus vinte anos, Marcel conta que teve desejo por uma mulher, Jacqueline. Não tendo podido bancar o homem com essa mulher que o solicitava, restou-lhe “a solução de ser a mulher que falta a todos os homens”.8 Foi impossível para ele fazer amor com ela, embora ela o tratasse como homem. “Ela me disse, mas você não é completamente um homem… já que não pode fazer amor comigo”. Foi nesse momento, sem dúvida, que sua psicose descompensou. Podemos igualmente nos interrogar quanto aos efeitos da morte de sua mãe, considerando suas relações e a importância atribuída ao olhar do Outro. Mas, igualmente, quanto aos da aposentadoria (carteiro, ele conservava relação com a letra9 e participava do laço social). Lucien e o médico responsável assinalam que ele não era afeminado cinco anos antes. Na verdade, toda essa feminização se desenvolveu a partir de um tempo impossível de demarcar nessa anamnese delirante.
Enfim, para concluir, devemos dizer algumas palavras sobre a questão da representação no Sr. P., pelo viés de suas formulações relativas a seu corpo, sua anatomia enigmática, não ordenada pelo significante fálico e, portanto, não simbolizado. Ele nos diz conhecer inteiramente o corpo humano. Este é comparável a uma superfície com uma “frente” e um “atrás” que têm sua especificidade, segundo uma topologia estranha. Sobre a frente: “na frente, eu tenho um pipi pequenininho, tenho muito pouco sexo, nenhum pêlo… nem próstata, nem testículos”, e quando o médico lhe aponta seu testículo, ele se insurge: “Não, não tenho. São tripas que descem numa bolsinha”. Esse aspecto, negador, centrado nos atributos viris, se acompanha de fenômenos transformacionais, à maneira de uma constatação sem apelação. Sendo mulher, então “ele desaparece aos poucos, meu pipi entra no meu ventre; estou perdendo ele; antes eu era comprido”. Negações, transformações que testemunham uma tendência hipocondríaca sob a forma de um esboço de cotardização.
Quanto ao atrás, ele é o lugar das fecundações, dos partos, receptáculo de todas as penetrações, lugar de dejeção dos objetos: urina, regras, fezes; operado, fizeram nele uma entrada, “como uma vagina”, “me abriram entre as coxas… eu sou aberto mais perto do ânus” e, ainda, “eu fazia pipi por trás, porque no interior eu tenho todo o aparelho feminino ligado a meu ânus”. Estranho encanamento para onde convergem uretra, fenda, ânus, olho. Sua anatomia tende para a instalação de um orifício único que preenche todas as funções e assinala a desespecificação pulsional própria da psicose.
Curiosa mulher, portanto, essa que ele representa, que explicita que os homens a “tomam entre suas coxas”. Curiosa perspectiva mono-orificial, que se articula com esses diversos representantes d’“A mulher” de exceção que seria completa, toda, e cujo envelope delirante nos era espontaneamente inimaginável, tanto quanto para o Sr. P., que não dispõe de nenhuma representação adequada, realizando-a ao converter-se nela.
Eu deixo aos cuidados de Marcel Czermak a tarefa de comentar para nós, mais adiante, o que tem a ver com a falicização do corpo (do pipi que desaparece ao gorro pontudo que ele exibe) e sua formulação “o real é sem representação, mesmo que tenha representantes”.
Marcel Czermak
Retomemos então. Em um caso assim, pudemos ver o arranjo em continuidade – nó de trevo – de R, S e I e, simultaneamente, a esfericização progressiva do corpo desse homem, apresentado como um prato raso, com uma borda, uma frente e um atrás. Frente-atrás que fazia enigma nas modalidades de sua relação com o Outro, com seu corpo e, de modo mais geral, com sua espacialidade. Prato que – topologicamente – o mínimo estiramento de suas bordas transforma em esfera furada.
E é, portanto, nessa formalização que eu veria, justamente, o que é apresentável; e, por isso, a grande distância – se podemos nos expressar assim – entre essa apresentação e a representação que ele nos endereça sob a forma de cartões postais vindos das Ilhas dos Passarinhos, Cui-Cui: as Canárias.
Isso para detalhar essa questão insistente do frente-atrás.
Em um tal sujeito, pode-se perfeitamente formular a reintegração progressiva dos objetos anos orifícios, até o ponto em que eles vêm se encaixar uns nos outros, culminando nisso que se constitui como uma autêntica cloaca anatômica: um só orifício desempenharia então, por si mesmo, todas as funções de alimentação, fecundação, excreção… Desespecificação ligada diretamente àquilo que eu me permiti qualificar, na questão do transexualismo, de verdadeira hipocondria fálica – ponto de origem da hipocondria mais geral de todas as psicoses.
Esse termo hipocondria fálica, jamais empregado na clínica, mereceria seguramente sê-lo, na medida em que, se existe um parasita, um fânero removível, é exatamente o significante fálico. Nesses sujeitos, a partir do momento em que, a título de sua hipocondria fálica, eles puderam se colocar fora do campo fálico, vemos, então, e de uma maneira automática, os objetos a, que o falo havia feito cair, reintegrarem os orifícios primordiais. Depois, por via regressiva, eles vêm colabar-se em um único. Enfim, se tive que insistir na necessidade de, como faz o paciente, pronunciar “Helmut” e não “Helmout”, foi exatamente porque se trata aí – igualmente – do reviramento do sujeito em dedo de luva sobre si mesmo, a título das visitas noturnas efetuadas por “Elle mute”, que lhe propiciavam sua própria volúpia.10 Modo autocopulatório, por falta do significante-cópula. Autocopulação por “Elle mute” revirada como uma luva. Foraclusão perfeitamente bem-sucedida da relação com o Outro, já que, independente de qual tenha sido minha “investida” em relação a ele, até mesmo meu lado deliberadamente gozador e talvez até desagradável, ele, no entanto, me enviou um cartão extremamente afetuoso.
Desse caráter eminentemente acolhido, socializado, de sua pessoa, tanto em seu bairro quanto nas Canárias, ele nos dá testemunho na redação desses cartões postais em que se considera persona grata junto a nós.
Tratando-se de um ao-menos-um que não conhece a castração, lamento, enfim para nosso propósito, ter esquecido de trazer duas estatuetas da Ilha de Páscoa, dois Moaï, Deuses primordiais, que me servem freqüentemente como instrumentos de demonstração.
Uma é a do Deus Maké-Maké, Deus pássaro, do qual tenho um exemplar que, por sua estilização, fala mais claramente que os outros exemplares que pude ver: num primeiro tempo, discerne-se mal, ao exame, a razão do efeito de angústia que ele suscita por sua fisionomia. Até que nos damos conta de que a escultura é feita de tal maneira que, de acordo com o ângulo pelo qual se olha para ela, o orifício que nos observa é tanto um olho quanto uma orelha, uma boca ou uma narina.
O Deus não tem fundamentalmente senão um orifício cefálico, encimado por uma espécie de protuberância como um chifre vertical, fálico, que o recobre e que, ela própria, conforme o ângulo do qual a olhamos, pode ser, a cada vez, um bico de pássaro, uma mandíbula de sáurio ou uma tromba de elefante.
O outro Moaï é um pouco mais complexo: olhado lateralmente, é um falo cuja glande contém dois olhinhos, o orifício uretral se alargando em uma boquinha hilária. Colocado verticalmente, face superior do falo para a frente, essa glande assume o aspecto de um homem bigodudo sem boca e, em sua parte inferior, onde deveria estar um pênis, surge uma forma genital feminina.
Se vocês olharem por trás da estatueta deixada verticalmente, a face inferior do falo tornando-se então o traseiro, vocês vêem – embaixo – um ventre grávido com um pênis pendurado, enquanto que a extremidade superior do corpo afilado termina em uma pequena glande cefálica. Assim, nesse anatropismo (mulher de um lado, homem do outro) mas com dois órgãos genitais (feminino no lado suposto homem e masculino no lado suposto mulher), observamos o corpo inteiramente falicizado do homem castrado e seu reverso em um: a mulher como um dos apogeus do homem, a mulher como futuro do homem, a mulher como um dos Nomes-do-Pai.
Nessa criação tudo-em-um, em que um cabalista talvez visse o Tsimtsoum divino, nos é levantada – a título do ao-menos-um – essa questão que é um dos mistérios da Ilha de Páscoa: por qual talento os pascoalinos fabricaram essas estatuetas dos ancestrais, qualificadas de bizarras, estranhas, que dão tanto pano pra manga aos etnólogos e que não são senão a indicação de que – melhor que os cartões postais que recebemos – elas se aproximam, por sua apresentação, dos Nomes-do-Pai de nossas formalizações topológicas, e do próprio caso de nosso paciente.
DISCUSSÃO
Prof. Delahousse: Fiquei muito interessado por sua passagem do discurso do paciente à montagem lacaniana, e o que você fez disso, Marcel Czermak, mas, enquanto psiquiatra, fiquei um pouco na vontade quanto à clínica francamente psiquiátrica. Será que não seria necessário fazer uma abordagem diagnóstica psiquiátrica um pouco mais cerrada, na medida em que nos encontramos, ao que parece, diante de um quadro evolutivo? São muitos anos de evolução e não se identificam muito bem as fases iniciais do quadro, por exemplo: o transexualismo apareceu absolutamente prevalente logo de início, ou ele foi rapidamente englobado nos outros fenômenos? Por outro lado, foram importantes suas práticas de travestismo, contemporâneas ou anteriores? Por outro lado, o que é que se passou quando da morte da mãe? Este foi um momento de báscula bem essencial para esse sujeito. Então podemos também nos dizer: há uma parte de delírio e uma parte de fabulação, como em todos esses delirantes que sentem muito prazer na expressão de seu delírio, e por outro lado você diz: está pacificado; ou será que é também porque esse paciente é muito dissociado e apragmático que o quadro se apresenta como pacificado?
M. Czermak: Suas questões são muito bem-vindas. Se escolhemos esse caso foi porque tínhamos em mente o seguinte: no projeto que temos, de voltar a trabalhar o conjunto da questão do transexualismo, partimos da doutrina de que isso que se chama de transexualismo puro, típico, primário, é apenas um caso localizado da questão geral do transexualismo. Por isso nos importava reunir casos que alimentassem nossa perspectiva, fazendo valer nitidamente seus traços estruturais. Ora, esse caso de psicose patente, conjugando transexualização e delírio de filiação, confabulações diversas, apresentava além disso o interesse, justamente, de que a importância dos remanejamentos retrospectivos, dos fatos imaginários, era tal que era praticamente impossível encontrar alguns elementos anamnésicos suficientemente sustentáveis. Em muitos aspectos foi, entretanto, de grande vantagem, já que ficamos aliviados da tendência psicológica habitual, na qual somos facilmente tomados logo que sabemos demais sobre a anamnese: estávamos diante de um quadro estrutural em estado bruto, ainda a formalizar.
Em terceiro lugar, para responder mais precisamente à sua questão, é provável que esse homem tenha conhecido duas inflexões importantes: seu encontro com essa mulher, Jacqueline, e o modo como ele respondeu exatamente nos termos do que Lacan pôde delimitar: na falta de ter podido ser o falo que faltava a sua mãe, e em sua dificuldade de ser um homem para uma mulher, restou-lhe ser a mulher que falta a todos os homens. Se tivéssemos aqui a transcrição da entrevista, você veria até que ponto é espantoso. Espero, entretanto, que possamos publicar esses diálogos, pois há aí um problema da própria tecnicidade do diálogo: fazer vir as coisas sem sugeri-las, evidentemente. É extraordinariamente eloqüente.
A segunda inflexão, como você observa muito justamente, deve ser relacionada à morte de sua mãe.
De resto, é extremamente difícil sustentar o que quer que seja. Nosso residente esteve com o irmão dele, e o que se deixa entrever é que pareceria que, na juventude deles, era este que era mais feminilizado e, no entanto, não o é mais, enquanto nosso paciente, que não era feminilizado, tornou-se.
Último ponto, quanto à questão estritamente nosográfica: um caso assim escapa efetivamente à nossa nosografia habitual. Ele tem 64 anos, nunca consultou psiquiatra. Se o recebemos, foi por indicação dos médicos do Hospital Boucicaut, onde tinha sido admitido por um problema cardíaco, que, ao ouvi-lo dizer “eu sou uma mulher”, disseram a si mesmos: trata-se de um caso para psiquiatras. Asseguramos os cuidados médicos, quanto ao delírio nos limitamos a nos instruir, a ligá-lo a nós e a cuidar dele. Esse paciente, portanto, nunca esteve ao alcance de um psiquiatra. Ele não era apragmático: sempre se virou sozinho e se envolvia, até se preocupava, muito bem, com a vida do serviço. A dificuldade eventual do enquadramento nosográfico deve-se ao fato de que ele tinha seguramente reconstituído um campo de realidade que lhe permitia uma relação bastante serena, amistosa mesmo, com seus interlocutores. Aliás, desde nossa primeira entrevista, eu disse: trata-se do estágio terminal, de equilíbrio, de “cura”, de uma psicose.
Um aspecto topológico que poderíamos desenvolver, mas que Louis Sciara acentuou, é o seguinte: à medida que o sujeito toma essa tendência a uma completude, uma repleção obturante (inclusive na gravidez: “isso mexe em mim”), ela se resolve em passagens ao ato imaginárias. Desse modo, abortos iterativos, fetos picados, jogados nos W.Cs.
Trata-se, certamente, de um caso que precisaremos retomar. Nossos documentos são abundantes. É seguramente um verdadeiro aporte à clínica da representação, do transexualismo, e da doutrina geral das psicoses, como o que determina nossos embaraços e nossas capturas ordinárias a partir de nossa fantasia de neuróticos: pois esse paciente, fantasia, ele não tem. Ele delira.
J. Bergès: O que me interessou muito foi o que você disse, em resumo, ao dizer que o imaginário é o próprio real. Quando, para a mãe, o imaginário de seu corpo e o real do filho estão assim em continuidade, ela o deixa numa dificuldade particular: como permitir que o simbólico entre no circuito, e você disse, ele entra de maneira fragmentada, e como?, substituindo a série dos Nomes-do-Pai por objetos a. Quando imaginário e real estão assim em continuidade, a mãe não pode simbolizar, isto é, falicizar o filho, o que se traduz pelo que você descreveu. Corolário: o imaginário se torna, para o psicótico, o próprio real, por intermédio do significante da mulher.
M. Czermak: Em todo caso, esse significante d’“A mulher” é, como vimos claramente, topologicamente especificado. Ou seja, ele se deixa apresentar. Ele nos é irrepresentável espontaneamente, nós não temos nenhuma representação dele senão nossas próprias imaginações, mas podemos desenhá-lo e escrevê-lo no quadro, e o resultado não tem nada a ver com nossas imaginações habituais. Ele se oferece, por exemplo, por seus nomes, no estabelecimento de um grafo que vocês podem arriscar. Um de nós, durante o trabalho sobre esse caso, lembrou esta fórmula de Lacan: “Um furo, o que é que isso expele? Expele o pai como nome”. Em nosso caso, a ilustração disso é nítida, pois à medida que os objetos reintegram, obturando-os, os orifícios, o que se expele na fala são nomes: quer se trate da “eminência parda” que é o pai, que aciona, que está aí, que está presente, quer se trate de Amanda, esse nome que ele se deu, ou Cécelle, quer se trate dos Helmut e Herman etc. O Sr. P. fez-se o Nome de todos os nomes, ao passo que os pais rejeitados, expelidos, se põem a pulular e os objetos reintegram o lugar de onde eles foram produzidos, de onde eles caíram: há aí, portanto, algo muito claro, nítido e demonstrativo, eloqüente no plano clínico, pois isso vale para toda a doutrina geral das psicoses. Assim, por exemplo, poderíamos tomar, rapidamente, a questão evocada ontem, do Cotard – que nos diz: “Eu não tenho nome” – pelo mesmo ângulo. Com essa nuance que nos interessa, de que há uma clínica das mulheres e uma clínica dos homens: o Cotard afeta sobretudo as mulheres, o transexualismo, sobretudo os homens, mas, in fine, a formalização topológica parece ser de uma proximidade perturbadora, por assim dizer. Já que seria quase a mesma, formulada diferentemente no discurso, e que uma seria apenas o reverso da outra. O caso Areski, que publicamos por sua eloqüência,11 situava-se justamente no ponto de reviramento de um no outro.
Enfim, só posso aquiescer ao seu enfoque segundo o qual o imaginário do ascendente pode – na psicose – tornar-se o real do descendente: é uma conjuntura que mereceria por si mesma amplos desdobramentos.
P. Arel: Em relação ao fato de que você se apoiou, em sua clínica, no exame do paciente despido, parece-me que isso levanta a questão do referente, da denotação, a saber, aquilo que serve para o estado civil: aquilo que estabelece nosso estado civil, ao mesmo tempo o nome próprio e, de outro lado, o sexo, já que o nome nos sexua, o estado civil o especifica. Como é que você se serviu dessa referência para estabelecer esse delírio?, e ao mesmo tempo… Isso foi precisado, mas o que me parece importante é… o que você traz em relação à desamarração do nome próprio, quer dizer que isso levanta a questão do referente, da denotação e do nome próprio.
M. Czermak: É uma questão fundamental e eu gostaria que, de uma vez por todas, ela seja resolvida, pelo menos nos meios analíticos. Por quê? De longa data, e inclusive em razão do enfoque errôneo dos psicanalistas, dos lógicos, dos lingüistas e dos filósofos, se desejaria que o nome próprio fosse um referente. Ora, o nome próprio, enquanto um dos veículos essenciais do Nome-do-Pai, e produtor, quando é pronunciado, da operação de delineamento de $, não é um referente: é aquilo a partir do que pode haver referência. Em outros termos, o nome próprio tem por função, em uma de suas vertentes, contar-se, também, como (-1).12 Nesse plano, ele não é, enquanto tal, um referente, pois ele permite sua instalação: é nesse sentido que o nome próprio é um ponto de ancoragem.13 E é certamente porque um tal sujeito – desprovido da duplicidade constitutiva do neurótico – não tem Nome-do-Pai a partir do qual possa se descontar e se contar, que, em seu delírio de filiação, ele se torna aquilo a partir de que ele é a referência de todos. Ele só pode fazer UM. Ponto capital em toda a teoria das psicoses. Nos neuróticos, gente conivente, diz-se: “eu me chamo fulano”. Bom!, é sua referência, dirão em uma apreciação sumária. É também a posição espontânea dos lógicos, quando tratam das questões da identidade e da referência, apesar da sofisticação de suas reflexões lógicas. Ora, toda a questão do patronímico se lê claramente nas psicoses e especialmente às claras nos delírios de filiações: esse sujeito se tornou aquele que nomeia todos os outros, que é portador de todos os nomes, que deu o nome a todos, produziu todas as obras do universo etc. etc. Ele é desde então o referente por excelência e por isso são os outros que contam a partir dele, já que, ele, não pôde se contar a partir dessa falta desse patronímico que só conta como subtração e falta. Nosso paciente é aquele que dá os nomes: é a referência dos nomes. Creio que é exatamente isso que começamos a evocar em antigas jornadas sobre a patronimia,14 e que ficou em suspenso. Hoje é a ocasião de retomar o fio.
Quanto ao fato de que o tenhamos despido: não foi de modo algum para estabelecer o delírio. Um delírio se estabelece a partir do que realçamos como arquitetura e coordenação positiva, sem que haja necessidade de verificação anatômica. Se o despimos foi porque, além do fato de que se criticava, com razão, o médico do hospital pela ausência de exame somático, esse exame permitia fazer valer sua negação sistemática de sua conformação física, a ser integrada na articulação dos fatos clínicos. Se um paciente delirante me diz: “eu não tenho coração” ou “pulmões”, eu não vou usar um estetoscópio nele senão para lhe fazer valer que seu coração real, eu o escuto muito bem. Por outro lado, lembrarei a alguns que estão aqui de que maneira, este ano, examinamos um deprimido cotardiforme (a metade inferior de seu corpo se esfericizava em uma enorme redondez) que apresentava a particularidade – jamais valorizada, fato espantoso, por seus médicos anteriores – de uma má-formação congênita: uma interrupção de sua embriogênese lhe tinha deixado uma microvagina, sem que a rafe mediana de suas bolsas, que continham testículos, tivesse sinfisado completamente, enquanto essa vagina era encimada por um também micropênis erétil. A ecografia abdominal era, entretanto, normal, sem útero residual. Nesse caso, ficaríamos muito contentes em saber o que se produziu para seus ascendentes na descoberta dessa anomalia de nascença. Aí também, a anamnese era impossível de obter, mas sabemos de que maneira ele respondeu depois: por uma esfericização delirante do abdômen e da pelve. Trata-se aí, portanto, verdadeiramente, de questões que têm a ver com o real do corpo, enquanto desconhecido pelo metabolismo da negação e da afirmação; anatomia, portanto, que deve tudo à linguagem, e que o Rouvière15 de nossa juventude não podia descrever.
P. Mauduit: Só para ilustrar a questão da referência: trata-se de um momento da entrevista com Marcel Czermak no hospital. O paciente diz: “Eu sou condessa” e Marcel Czermak lhe responde sem pestanejar: “Então, eu sou conde”, e o paciente lhe retruca: “Não, porque você não fez amor comigo”. Creio que isso ilustra bastante bem o fato de que ele é sua própria referência.
G. Balbo: Gostaria de retomar o que disse Bergès. Ele falava de prolongamento; quanto a mim, eu diria que há algo de unilateral, justamente, entre a mãe e o filho. E que se reencontra seguramente em seu irmão, do qual você falou: a única vez em que me deparei, em minha vida de clínico, com um quadro como esse, a mesma coisa se produziu, e o irmão, nesse momento em que, com efeito, o outro se tornou mais viril, pois bem, na verdade, esse outro também não estava tão bem assim. E eu creio que, nesse momento, a questão é efetivamente entre a mãe e o filho: essa relação, esse jogo, essa sucessão unilateral do imaginário ao real, que faz com que os objetos vão circular, mas a tal ponto que, efetivamente, os objetos nunca serão perdidos nem para um nem para outro. Quer dizer que o corte, que poderia ser produzido por uma perda, aqui não se produz ou pode não se produzir, o que é interessante.
E para retornar ao que você acabou de dizer do zero. Você sabe de que modo Lacan, em Sobre um discurso que não seria do semblant,16 diz que, graças a esse zero, imediatamente, do lado do homem a coisa se completa, enquanto que esse inumerável do lado da mulher… e eu acho que o caso que você levanta é absolutamente notável no tocante a essa inumerabilidade. Algo no que ele lhe diz aparece como inumerável, não inominável, mas inumerável.
C. Veken: Gostaria de dizer uma palavra quanto à questão do método que presidiu o que é apresentado aqui, que me parece essencial. Pois é a partir dessa posição no exame clínico que todas as questões que são retomadas agora se tornam possíveis: o embaraço que surge, freqüentemente, em uma discussão clínica, é o da confiabilidade do que é trazido, que requer, preferencialmente, a confiança na interpretação clínica do clínico que nos apresenta as coisas; enquanto aqui, permito-me insistir nisso, o fato é que a exatidão da anamnese é perfeitamente secundária: nos interessamos pela estrutura, por seus traços objetiváveis que permitem que se discuta verdadeiramente sobre estrutura clínica. E creio que no que você apresentou, da maneira como você apresentou, há para mim uma lição que nos prepara verdadeiramente para entrar numa nova clínica, numa nova maneira de comunicar a respeito da clínica. Obrigado.*
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* Notules de clinique sociale – Le réel est sans représentation, même s’il a des répresentants: le cas Amanda. Em Le Trimestre Psychanalytique nº 4 – La représentation. Association freudienne internationale, Paris, 1995.
1 CZERMAK, M. “Precisões sobre a clínica do transexualismo”. Paixões do objeto: Estudo psicanalítico das psicoses. Artmed Editora, Porto Alegre, 1991.
2 Quanto a esse ponto, referir-se, para maiores desenvolvimentos, a nossas observações, com Denise Sainte Fare Garnot, em “L’oralité, dans la psychose, est-elle spécifique?”, em Le Trimestre Psychanalytique nº 1, 1990, pp. 137-48.
3 N.T. – Diminutivo de Marcelle.
4 N.T. – Elle mute (“Ela muda”) faz homofonia com a pronúncia francesa do nome alemão Helmut.
5 N.T. – No original, “hommoinzune” – jogo de palavras cuja pronúncia, em francês, une homme (homem) e au-moins-une (ao-menos-uma).
6 N.T. – Forma de tratamento afetivo usada com crianças, animais de estimação e entre amantes; equivalente masculino de ma biche (minha cabritinha).
7 N.T. – “que deixou o hotel Waikiki” – a ênfase não é no significado, mas na aliteração: qui a quitté l’hôtel Waikiki.
8 LACAN, J. “De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose”. Em Escritos. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1998, p. 572.
9 N.T. – No original, lettre, que significa tanto carta quanto letra.
10 N.T. – No francês, a pronúncia de “Helmut” faz homofonia com “Elle mute” (“Ela muda”), e a de “Helmout”, não.
11 Cf. “A propósito da impressão de ser imortal”, por Denise Sainte Fare Garnot, e “Observações sobre ‘A propósito da impressão de ser imortal’ ”. Em CZERMAK, M. Paixões do objeto: Estudo psicanalítico das psicoses. Artmed Editora, Porto Alegre, 1991.
12 Lacan dizia que $ só pode ser “um traço que se traça por seu círculo, sem poder ser incluído nele. Simbolizável pela inerência de um (-1) no conjunto dos significantes. Como tal, ele é impronunciável, porém não sua operação, pois ela é o que se produz toda vez que um nome próprio é pronunciado”. LACAN, J. “Subversão do sujeito e dialética do desejo”. Em Escritos. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1998, p. 833.
13 N.T. – No original, point de capiton.
14 Jornadas de estudos da Association freudienne internationale [atual Association lacanienne internationale], publicadas em Le Trimestre Psychanalytique n.º 1, 1992.
15 N.T. – Compêndio clássico de anatomia.
16 LACAN, J. Le Séminaire, livre XVIII, D’un discours qui ne serait pas du semblant (1970-1971) (inédito).
* Tradução: Sergio Rezende. Revisão da tradução: Patricia Reuillard.