Observações sobre situações de desespecificação pulsional em sua relação com as funções na psicose
Marcel Czermak, Stéphanie Hergott e Jean-Jacques Tyszler Extrato (Jean-Jacques Tyszler) [...]
Marcel Czermak, Stéphanie Hergott e Jean-Jacques Tyszler Extrato (Jean-Jacques Tyszler) [...]
Lacan nos propõe, nos capítulos de março, abril e maio de 1969, do seminário "D'un Autre à l'autre", um retorno à questão da sublimação. Ele faz um certo número de evocações bastante cerradas, sobretudo do seminário “A ética da psicanálise”: as coordenadas freudianas relativas à pulsão e à sublimação, o lugar do amor cortês, a obra de arte. Vou indicar os pontos que, embora retomados como eco do(s) seminário(s) anterior(es), podem trazer dificuldades, pois afinal o próprio termo sublimação, o próprio conceito, sofre uma certa inércia em sua utilização.
Três anos foram necessários a Scipião Emiliano, helenista célebre, e a suas legiões desinibidas para dominar a cidade da bela Elissa e destruí-la completamente. O pequeno museu de Cartago deixa no visitante a lembrança alucinada de uma epopéia que ainda fala ao montanhês do lado francês ou italiano dos Alpes. Aníbal e seus trinta e sete elefantes abrindo caminho nas sendas e desfiladeiros. Como Scipião, o turista, um pouco estupefato, enxuga uma lágrima. Era preciso aniquilar tudo por causa de um porto, atentado sacrílego à potência comercial de Roma?
Nos anos 80, os estados-limites suscitavam o entusiasmo dos professores de psiquiatria, na medida em que eles encontravam aí um encorajamento para o trabalho de demolição de toda a nosografia clássica. A apresentação de Henri Rousselle em Ste.-Anne, nessa mesma época, tomou a contramão desse desprezo de uma clínica mais detalhada e de uma troca séria com o paciente. Sabemos que Lacan, por sua vez, quando de suas apresentações no serviço de Daumézon, nunca recorreu a essa terminologia vinda de uma corrente analítica que ele combatia.
A coagulação e a fragmentação são dois termos utilizados em probabilidades; a palavra muitas vezes usada ao invés de coagulação é coalescência. A dificuldade para dar conta da clínica e da prática no campo das psicoses deve-se a um problema que pode ser pensado a partir desses dois termos extraídos do universo das matemáticas. É estruturalmente impossível, em nossa apreensão do fato clínico, identificar ao mesmo tempo o processo de unificação próprio à psicose, o processo tão característico do 1 preenchedor e totalizante, tão perceptível, por exemplo, no que chamamos desde De Clérembault de ‘psicoses passionais’ e, mais geralmente, de passional na psicose – fazer Um no lugar do Outro, Um no Outro – é impossível identificar esse fato maior ao mesmo tempo que o trabalho hipocondríaco do objeto, na língua, no corpo e nas passagens ao ato do paciente.
Pourquoi peut-on dire en même temps que pour l’Ics le corps occupe le registre de ce que Lacan a appelé le Réel, l’impossible à symboliser et à imaginariser et que notre modernité, le forçage scientifique accélère le fait que dans la clinique c’est le versant réel du corps qui occupe le devant de la scène, l’imaginaire ne faisant que coller à ce Réel. Je souhaite partir d’une présentation clinique récente faite à l’hôpital de Ville Evrard qui m’a permis de rencontrer un patient, névrosé obsessionnel « grave» qui avait atterri en psychiatrie parce que depuis plusieurs mois il ne soignait pas un ulcère de la jambe qui s’était sérieusement infecté.
Todo mundo pode constatar o divórcio que se acelera entre a psicanálise e a psiquiatria; esta última, ocupada completamente com as neurociências, com a genética e com a farmacologia, parece considerar pouco freqüentável uma disciplina que não adquiriu cientificidade. Alguns entre nós se felicitam igualmente por uma separação há muito tempo esperada e perseguem o sonho de um discurso analítico enfim desembaraçado das más fadas que rodearam seu nascimento. Não compartilho do projeto de uma psicanálise de mãos brancas. A paixão da ignorância fez regredir os estudos psiquiátricos até o ponto em que se acha recalcada toda a excelente tradição clínica habitualmente chamada franco-alemã.
Lacan se espantava, ao ler o livro de Stoller, Sex and gender, com o fato de que a face psicótica desses casos fosse completamente eludida. O manual de psiquiatria de Henry Ey, em sua quarta edição, evoca o transexualismo em dois trechos: primeiro, no capítulo sobre o homossexualismo, depois, em uma passagem sobre as síndromes particulares a certas culturas em que o transexualismo é associado a poderes xamânicos, ritualizados, quase religiosos. Perversão, psicose ou fato cultural, o enquadramento, ao deixar de ser clínico, derrapa logicamente na direção do bom direito e da medicina reparadora.