Sobre Charles Melman

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A crença

Por |2015-07-06T17:59:10-03:0002/02/2015 17:12|

Como vocês sabem, a crença é um velho problema que, bizarramente, gira sempre em torno da mesma figura: crença de que haveria alguém que sabe. Alguém que sabe, capaz, portanto, ao mesmo tempo de nos guiar, de nos dizer o que nós temos que fazer. Se eu a apresento desse modo a vocês, é porque, vocês se lembram sem dúvida de suas aulas de latim, por exemplo, onde vocês traduziam as histórias concernentes aos adivinhos, onde vocês podiam ver que Julio Cesar ou outros generais, não menos consideráveis, não começavam, não travavam a batalha antes de terem consultado os adivinhos; e se os adivinhos dissessem, após terem observado o vôo dos pássaros ou dissecado um pobre animal para examinar o interior de seu organismo, não, hoje não, não é um dia favorável, pois bem, esse brilhante general adiava a batalha.

“Não ceder em seu desejo”

Por |2015-07-06T17:59:13-03:0026/01/2015 11:18|

Ao me pedir para intervir, por ocasião dessa semana, nossos amigos belgas me deram, de algum modo, liberdade de palavra, e vou começar, se vocês concordarem, por uma breve interrogação sobre o que é a liberdade de palavra; pois, afinal, a palavra é seguramente um ato eminentemente ético, pois ela provoca imediatamente no ouvinte essa avaliação do quanto de desejo que pode se achar aí engajado. Como vocês sabem, isso chega, aliás muito legitimamente, ao ponto de a liberdade de palavra se confundir com direitos do homem, o que, por outro lado, poderia parecer surpreendente, quando se sabe que, afinal, a liberdade de palavra pode consistir, como é o caso freqüentemente para todos nós, em dizer mais ou menos qualquer coisa.

Uma calça para dois

Por |2015-07-06T17:59:14-03:0002/01/2015 17:19|

Como vocês sabem, fazemos forçosamente do sexo uma questão de sentimentos. O problema é que o que determina o sexo é primordialmente uma estrutura perfeitamente indiferente aos sentimentos que podemos experimentar e que gostaríamos que estivessem no comando da relação. E é claro que, na medida em que não estejamos advertidos, certamente melhor, quanto às particularidades estruturais que ordenam o sexo para nós, continuaremos seguramente a viver a relação no domínio do sonho, da reivindicação, da utopia, do mal-estar, e até mesmo, hoje em dia, e por que não?, da reivindicação social.

Sexolíticos – Toxicomania ou a questão da sexualidade

Por |2015-07-06T17:59:16-03:0002/01/2015 17:02|

Se a adição marca um estado de dependência vital em relação a um objeto, convém notar, preliminarmente, que ela é o quinhão de todo sujeito. “Falo” é o nome dado por Lacan (mais preciso que a “libido” de Freud) à instância cuja presença é indispensável à manutenção da subjetividade – e, portanto, do desejo, do pensamento, da memória, do Eu etc. Verifica-se que a existência visa, antes de tudo, ao reconhecimento da permanência de sua apropriação, de sua incorporação. As grandes crises vitais estão, em geral, ligadas a seu eclipse súbito: luto, divórcio, menopausa, desemprego etc.

O sujeito enquanto paranóico

Por |2015-07-06T18:00:37-03:0002/01/2015 16:43|

Ela sai na rua e percebe que a olham. Olhares principalmente simpáticos, interessados, divertidos, e então ela passa diante da varanda de um café e se dá perfeitamente conta de que as pessoas que ali estão a vêem, cochicham à sua passagem; chega mesmo a observar que um motorista diminui a velocidade para olhá-la melhor, com certo prazer, parece, interesse, gentileza mesmo. Evoco para vocês essa situação, que vocês reconhecem como fazendo parte de nossa vida social comum, para ilustrar de saída a maneira pela qual, por estar num certo lugar, numa certa posição, aquele que aí está se vê atraindo os olhares, sendo o objeto de falas que, nesse caso dela, não são enigmáticas, pois ela sabe muito bem qual é a natureza do interesse que suscita; mas de que maneira, por se achar num certo lugar, você se vê então atraindo os olhares, suscitando falas: em conseqüência, você se experimenta, é claro, em sua singularidade e em sua unicidade, em relação ao mundo que o cerca

Limite ou fim da análise?

Por |2015-07-06T18:00:40-03:0028/12/2014 12:51|

Eu aprecio muito as comunicações dos senhores que são – como dizer – absolutamente clássicas, sobre a questão do fim da análise. Os senhores veem, achamos sempre que somos especiais, originais; achamos sempre que falamos a partir de nossa experiência singular e, no entanto, dizemos sempre a mesma coisa. Se é verdade que dizemos sempre a mesma coisa, isso mostra bem que há, em algum lugar, uma lei e a questão é saber se podemos nos informar sobre essa lei. Não para burlá-la – porque nós gostamos muito de burlar a lei – não para burlá-la, mas para nos permitir talvez estar um pouco mais informados sobre o que dizemos, sobre o que fazemos e sobre a maneira de sustentar nosso lugar enquanto analistas.

A política de Lacan

Por |2015-10-03T13:09:45-03:0019/12/2014 13:10|

O deputado do VIIe arrondissement, regularmente reeleito desde a Liberação nesse belo bairro de Paris, fazia parte de um pequeno grupo extremista de direita, chamado, me parece, Centro Nacional dos Independentes, que reunia nostálgicos, senão colaboradores, de Vichy. O “deputado das zeladoras”, como se gabava de ser chamado aquele de quem elas eram as melhores propagandistas, se distinguia menos por seu patronímico – Frédéric-Dupont, melhor impossível – do que pela audácia com que defendia ideais sulfurosos numa época em que a democracia cristã era mais social que a SFIO e o partido gaullista mais nacional que os maurassianos.

O que é uma transferência de trabalho?

Por |2015-09-20T23:26:16-03:0019/12/2014 12:17|

Serei muito rápido por causa da hora. Como vocês sabem, Lacan se queixava freqüentemente. Ele começava, freqüentemente, uma de suas intervenções por um grande suspiro: Pffff...! Entre suas queixas, havia uma que dizia: “Os psicanalistas não fazem nada.” Isso tem, pelo menos, a vantagem de levantar a questão de nossa relação ao trabalho para todos; pois é verdade que somos fundamentalmente, essencialmente, preguiçosos. E se é verdade que, para Lacan, a transferência de trabalho é suscetível de vir substituir o amor de transferência – ou seja, vir marcar o que seria o fim de um tratamento - a questão de nossa preguiça fundamental nos concerne duplamente.

A prática psicanalítica de Jacques Lacan

Por |2015-07-06T18:05:34-03:0019/12/2014 11:56|

Aqueles que nos precederam, isto é, os gregos, distinguiam muito bem duas práticas diferentes. Uma, da qual eles diziam que se dava segundo a f?s?? (2) , segundo as regras da natureza; e outra, que, ao contrário, se dava segundo a ??s?? (3) , ou seja, segundo as convenções que se podia estabelecer. A distinção é importante e é interessante para nós porque é fácil de apreender. Percebe-se logo a diferença: o crescimento de um carvalho, por exemplo, então, é evidentemente uma prática que se dá segundo a f?s??, segundo as regras da natureza: planta-se uma semente e em seguida surge um carvalho.

“A psicanálise não promete a felicidade”

Por |2024-03-27T18:10:43-03:0003/09/2013 00:12|

O psicanalista francês Charles Melman foi um dos colaboradores mais próximos de Jacques Lacan (1901-1981), o principal herdeiro de Sigmund Freud na França. Melman chegou ao Rio de Janeiro nesta quinta-feira, dia 24, e participa na manhã de sexta do seminário "E o que é que ele quer, o psicanalista?", realizado no Hotel Glória. No final da tarde autografa seu novo livro, A Prática Psicanalítica Hoje. Antes de viajar, concedeu por telefone a seguinte entrevista ao repórter Ronaldo Soares, da sucursal carioca de VEJA.

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